sábado, 7 de março de 2009

07/03/2009 às 20:37 ATUALIZADA às 22:31 COMENTÁRIO (0)
Delegacias no interior da Bahia estão sem titulares
Glauco Wanderley e Miriam Hermes, do A TARDE
Um terço das delegacias no interior da Bahia está sem delegados titulares. O número é fruto de levantamento feito no início de fevereiro, pelo delegado Bernardino Filho, responsável pelo Departamento de Polícia do Interior (Depin) da Polícia Civil. Ao todo, segundo a Secretaria de Segurança Pública, existem 406 delegacias no interior do Estado, o que significa que algumas cidades não dispõem sequer da estrutura física, já que são 417 os municípios baianos.
As 132 delegacias (ou 32,5%) não possuem um titular. Por conta dessa defasagem, há delegados dividindo-se em duas ou mais cidades. O resultado é que o profissional não tem como dar conta do serviço e a população, quando precisa de atendimento, fica desamparada. Foi o que aconteceu com o aposentado Felipe Francisco dos Santos, 66, em Mansidão (a 1.110 km de Salvador e a 15 km da fronteira da Bahia com o Piauí). “Pela primeira vez na vida precisei da delegacia, mas liguei para cá três vezes e ninguém atendeu. Resolvi vir e encontrei a porta fechada”, reclama. Ele já se preparava para deixar o local, quando o agente policial chegou, justificando estar em horário de almoço, apesar de já passar de 14h30.
Mansidão está sem titular há cinco anos e recebe a visita do delegado de Riachão das Neves, Arnóbio Dionísio Soares, só em casos de extrema necessidade. A falta de delegado atrapalha a abertura de inquérito, como explica o comandante do destacamento da PM na cidade, sargento Demétrio. “Temos que remover a pessoa acusada até a cidade mais próxima que tenha delegado. Como em Santa Rita de Cássia (a 1.044 km de Salvador) também não tem titular, muitas vezes temos que nos deslocar até Riachão das Neves ou Barreiras, distante mais de 250 km”. Queixa – A vizinha Santa Rita de Cássia está sem titular há três meses e também é atendida pelo delegado de Riachão das Neves, que informou à reportagem que uma vez por semana, às quartas-feiras, se desloca para Santa Rita. Apesar disso, a atendente Marisa Martins, 29, se queixou de que o pai tinha uma queixa registrada há 10 dias por causa de um problema com um vizinho de fazenda e ainda não tinha conseguido falar com o delegado. “Nosso município precisa muito de uma autoridade competente para resolver esses problemas e trazer mais tranquilidade à população”, suplica. Santa Rita tem 26.135 habitantes (de acordo com dados de 2007, do IBGE). A falta de delegado ou policiamento de um modo geral instaura situação de medo para a população. Os ladrões parecem se sentir seguros, certos de que ficarão impunes. Em Itamari (a 328 km de Salvador), por exemplo, o comerciante Ambrósio Silva, dono de um bar, teve o seu aparelho de DVD levado por um assaltante que o ameaçou com uma faca. “A gente sabe quem é a pessoa, mas não adianta dar queixa na delegacia se não tem policiais e nem delegado”, observa. A cidade é atendida pelo delegado da vizinha Teolândia. Outro comerciante, Lucas de Souza, se queixa de que o aumento do tráfico de drogas na cidade tem trazido uma elevação também dos casos de furtos no comércio local. Boca fechada – Manter-se de boca fechada ou falar apenas sob a condição do anonimato é a regra em Itatim (15 mil habitantes, a 225 km de Salvador). No bairro Salgada, considerado mais violento, houve dois homicídios este ano, atribuídos a questões do tráfico. Apesar do tamanho do município, já ocorrem disputas por pontos de venda de drogas. O dono de um bar lamenta de que atualmente no máximo às 9h da noite tem que fechar as portas. Três idosos que conversaram com a reportagem asseguraram que ninguém mais sai à noite. A cidade não tem delegado há mais de dois anos. Está sob os cuidados do delegado de Milagres, Gilmar Nogueira. Dois policiais civis se revezam em turnos de 15 dias diretos de plantão e 15 dias de folga. Todo o patrulhamento está a cargo de dois PMs por dia. Como a delegacia de Itatim teve as celas derrubadas, pois já não ofereciam a mínima segurança, quando alguém é preso, a PM pega a estrada para procurar vaga em alguma cidade vizinha.
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